Seeing Being Seen: territórios, fronteiras, circulações by Ricardo Janeiro 31, 2020 0 Investigação, Novidades

Datas:
Filme 1 – 7 de março de 2020, 17h-19h
Filme 2 – 1 de Outubro de 2020, 18h
Novo ciclo de filmes – 16 de Março de 2022, às 18h

Localização:
HANGAR ONLINE

EVENTOS

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“Territorio” (2016), Alexandra Cuesta, 66’, Equador, vídeo, cor, cortesia da cineasta.

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La Libertad (2017), Laura Huertas Millán, 29’, Colômbia, França, EUA

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Seeing Being Seen: Territories, Frontiers, Circulations 2022

DETALHES

O olhar e os processos de rotação e de retroactividade do olhar são centrais na reflexão filosófica e epistemológica do século XX e do início do século XXI. Da fenomenologia da percepção de Merleau-Ponty ao perspectivismo ameríndio de Viveiros de Castro, passando pelas descrições fenomenológicas de Sartre, o pensamento dos modelos perceptivos e cognitivos alia-se a uma reflexão sobre as relações entre sujeito/observador e objecto/observado. Coloca-se a possibilidade de superar o quadro convencional binário da epistemologia e dos modelos de visão da modernidade europeia hegemónica.
Seeing Being Seen: territórios, fronteiras, circulações reúne um conjunto de filmes de cineastas latino-americanas em que o tratamento das noções dinâmicas de “território” e de “fronteira” — e do princípio de circulação subjacente — assenta num sistema de mobilidade e de retroacção do olhar. Esse sistema põe em xeque a relação dual e hierárquica entre as categorias de observador/observado, sujeito/objecto, humano/não-humano que estrutura o modelo epistémico e representativo dominante. Através de formas cinematográficas experimentais, os três filmes do programa figuram situações sensoriais de exposição do observador ao olhar do outro, um “ver sendo visto”, experiências de co-presença próximas de um modelo de co-representação que excede o binarismo sujeito/objecto. Os processos de activação, agenciamento e circulação de pontos de vista (humanos e não-humanos: maquínicos, animais, vegetais, minerais) atravessam as obras do programa. Todas elas superam as representações coloniais da paisagem, da natureza e da figura humana, num quadro de reciprocidade e de desantropocentrização, aspecto fundamental num período de catástrofe ecológica iminente — e de ameaça aos povos ameríndios.
Cartografia poético-política do Equador da Revolución Ciudadana, Territorio (2013), de Alexandra Cuesta, descreve experiências do olhar e do acto representativo em que o sujeito de representação é investido pela visão dos objectos representados.

Produzido pelo Sensory Ethnography Lab da Universidade de Harvard, La Libertad (2017), de Laura Huertas Millán, exemplifica uma prática cinematográfica implicada. À medida que a cineasta acompanha um grupo matriarcal de tecedoras ameríndias no México, o filme emerge formalmente como uma tela. Várias linhas são entrelaçadas no tecido fílmico: a história de resistência do tear de correia traseira, técnica de tecelagem pré-hispânica, é entretecida com a interacção entre a observadora e as observadas através de uma perspectiva interseccional recíproca.

Programa

Filme + conversa com cineasta
7 de março de 2020, 17h-19h
Territorio (2013), Alexandra Cuesta, 66’, Equador.

Filmada no Equador, a trajectória começa no oceano, atravessa as montanhas e chega à selva. O filme constrói uma experiência temporal em que a câmara fixa retrata imagens da geografia e das pessoas à espera de ser observadas. O percurso do filme desenha uma cartografia humana que procura alcançar um equilíbrio impossível entre a mirada alheia do viajante e a familiaridade empenhada de alguém que volta a casa temporariamente. A obra desenvolve-se como uma série de fragmentos. A vida é retratada frente a câmara e cada plano mantém o seu enquadramento. Da mesma maneira que Walter Benjamin descreve o efeito de exposição de longa duração dos primórdios da fotografia como a vivência dos modelos dentro — e não fora — do momento, em Territorio, a duração de cada plano convida o sujeito a crescer lentamente na imagem com o passar do tempo respondendo directamente à presença da cineasta.

Filme + Conversa com cineasta
1 de Outubro 2020, 18h
La Libertad (2017)  de Laura Huertas Millán 29’, Colômbia, França, EUA

Os matriarcados reuniram-se ao redor do tear de correia traseira, técnica de tecelagem pré-hispânica preservada ao longo dos séculos pelas mulheres ameríndias meso-americanas. Em circulação entre um espaço doméstico, um museu de arqueologia e uma cooperativa, La Libertad desenrola-se como um tecer dos gestos e figuras que compõem este trabalho. Diferentes comunidades e ecologias entrelaçam-se em torno do artesanato — delineando, ecoando, articulando, alargando a liberdade.

Ciclo de filmes
16 de Março de 2022, às 18h
Seeing Being Seen: Territories, Frontiers, Circulations 2022

The gaze, its shift and the reciprocity of perspectives are central to the philosophical and epistemological reflection of the last century. From Merleau Ponty’s phenomenology of perception to Viveiros de Castro’s Amerindian perspectivism, passing by Sartre’s phenomenological descriptions, the thought of perceptive and cognitive models is combined with a reflection on the relationships between the observer and observed. The possibility arises of overcoming the conventional binary framework of the modern dominant visual and epistemological formations.

Notas biográficas

Alexandra Cuesta
A obra da cineasta equatoriana Alexandra Cuesta combina a tradição do cinema experimental com práticas documentais. A realizadora investiga a reciprocidade do olhar nas representações audiovisuais. As imagens partem frequentemente da esfera pública para sublinhar a poética da experiência comum.
Os filmes de Cuesta foram exibidos em diversos festivais, museus e instituições culturais, tais como FID Marseille, The Museum of Contemporary Art Los Angeles, Viennale, BAFICI, Cinéma du Reel, FIC Valdivia, Fronteira, Image Forum Tokyo, Anthology Film Archives, Bienal de Cuenca, Courtisane, New York Film Festival, Havana.
MFA em Filme e Vídeo pelo California Institute of the Arts e BFA em Fotografia pelo Savannah College of Art and Design.
Laureada com a Bolsa Guggenheim em 2018.

Laura Huertas Millán
Laura Huertas Millán é uma cineasta e artista visual franco-colombiana, cuja prática se situa na intersecção entre o cinema, a arte contemporânea e a investigação.
Os seus filmes, exibidos em festivais de cinema como a Berlinale, o Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF), o Festival Internacional de Cinema de Roterdão, o Festival de Cinema de Nova Iorque e o Festival Cinéma du Réel, foram premiados no Festival de Cinema de Locarno, no Festival FIDMarseille, no DocLisboa e no Videobrasil, entre outros certames. Foram consagradas até ao momento mais de vinte retrospectivas e programações especiais ao trabalho de Huertas Millán em todo o mundo, em instituições como Toronto’s TIFF Lightbox, Harvard’s Film Archive ou a Cinemateca de Bogotá e em festivais como o Festival de Mar del Plata e Rencontres du Documentaire de Montreal.
No campo da arte, Huertas Millán expôs recentemente no MASP de São Paulo, na Maison des Arts de Malakoff e no Museu de Arte Moderna de Medellín. Os seus filmes foram também exibidos em instituições artísticas (Centre Pompidou Paris, Museu do Jeu de Paume, Guggenheim Museum NY, Times Art Berlin) e em bienais de arte (Liverpool, FRONT Triennial, Videobrasil, Videonnale). Integram colecções privadas e públicas (Kadist, CNAP, Banco da República da Colômbia, CIFO, FRAC Lorraine, entre outras).
Doutorada na prática de “Ficções Etnográficas” pela PSL University (Programa SACRe) e pelo Sensory Ethnography Lab (Harvard University), Huertas Millán desenvolve actividades pedagógicas em espaços académicos e alternativos. Desde 2019, integra um colectivo de investigação centrado na antropologia crítica e na estética e na política do encontro com a curadora e escritora Rachael Rakes.

Programadora do ciclo
Raquel Schefer

Raquel Schefer é investigadora, realizadora, programadora e docente na Universidade Sorbonne Nouvelle — Paris 3. Doutorada em Estudos Cinematográficos e Audiovisuais pela Universidade Sorbonne Nouvelle — Paris 3 com uma tese dedicada ao cinema revolucionário moçambicano, é mestre em Cinema Documental pela Universidad del Cine de Buenos Aires e licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa. Publicou a obra El Autorretrato en el Documental (2008) na Argentina, bem como diversos capítulos de livros e artigos em Portugal e no estrangeiro. Foi Professora Assistente na Universidade Grenoble Alpes, docente nas Universidades, Paris Est – Marne-la-Vallée, Rennes 2, na Universidad del Cine de Buenos Aires e na Universidad de la Comunicación, na Cidade do México, e investigadora convidada na Universidade da Califórnia, Los Angeles. É bolseira de pós-doutoramento da FCT no CEC/Universidade de Lisboa e na Universidade de Western Cape e co-editora da revista de teoria e história do cinema La Furia Umana.