Inner Spirits and Outer Landscapes
Com curadoria de Mistura Allison
Dawit L. Petros, Dimakatso Mathopa, Helena Uambembe, Kapwani Kiwanga, Sandra Poulson, Tuli Mekondjo, Yinka Shonibare e Zanele Muholi
23 de novembro de 2024 – 11 de janeiro de 2025
Abertura: 22 de novembro, 14h às 19h
Hangar – Centro de Investigação Artística
Inner Spirits and Outer Landscapes é a primeira exposição da Coleção FAS, em Lisboa, que se debruça sobre a complexa relação entre domesticidade, espiritualidade e autodeterminação. Esta exposição desafia as visões convencionais do confinamento nos espaços domésticos e espirituais, realçando a forma como as vertentes pessoal, espiritual e material se cruzam para criar zonas de cuidados, resistência e liberdade criativa.
Inspirada pela exploração de Saidiya Hartman (1) do trabalho doméstico como subjugação e autonomia, a exposição transforma os ambientes quotidianos – casas, paisagens e corpos – em locais poderosos de auto-afirmação e prática espiritual. Apresenta a esfera doméstica não como um lugar de confinamento, mas como um espaço de transformação radical e de renovação espiritual, onde se semeia a soberania e a autonomia. Envolvendo-se profundamente com ideias de soberania, memória e resiliência, os artistas desta exposição transformam as noções tradicionais de ambientes domésticos e externos em poderosos espaços de arquivos vivos. As suas práticas repensam constantemente as fronteiras entre o pessoal e o político, expondo como estes espaços estão interligados e como são continuamente reformulados por aqueles que os habitam.
Inner Spirits and Outer Landscapes tem curadoria de Mistura Allison, como curadora convidada da Coleção FAS, e será exposta no Hangar CIA. A seleção de artistas inclui Dawit L. Petros, Dimakatso Mathopa, Helena Uambembe, Kapwani Kiwanga, Sandra Poulson, Tuli Mekondjo, Yinka Shonibare e Zanele Muholi. Todas as obras que fazem parte desta exposição fazem parte da Coleção da FAS, com exceção da obra de Tuli Mekondjo Kalunga ka Nangobe, a qual foi incluída na sequência de um convite especial da curadora. Esta exposição é produzida pela Coleção FAS & Hangar CIA.
A FAS – Forward Art Stories é uma coleção privada sediada entre Lisboa e Luanda. Fundada em 2016, a FAS é impulsionada pela curadoria das suas obras e pelas ideias inerentes às diversas narrativas e expressões artísticas do continente africano e da sua diáspora. Para promover novas leituras da coleção, a FAS convida e apoia artistas, curadores, escritores e críticos para colaborarem no seu programa. Através de parcerias internacionais e institucionais, a nossa ambição é a de divulgar e promover os conteúdos da coleção.
A FAS apoia o reconhecimento de artistas como membro da Network of Africa Patrons da Delfina Foundation e da Fundação Yinka Shonibare, bem como através de doações a instituições como a TATE e o Centre Pompidou. Recentemente, a FAS tornou-se membro da organização World Art Foundations.
Outras iniciativas nos últimos anos incluem parcerias com a Gasworks, Greenhouse–representação oficial portuguesa na Bienal de Veneza 2024, La Biennale de Lubumbashi, PhotoEspaña e a Kadist. A coleção está associada a publicações e edições recentes tais como Atlantica da Hangar Books e Opera to a Black Venus, de Grada Kilomba, disseminando a expansão do cânone da cultura ocidental e valorizando o conhecimento das artes visuais africanas.
Mistura Allison é uma investigadora, curadora e historiadora de arte. É fundadora da ashikọ, uma plataforma de pesquisa visual que se debruça sobre a pluralidade das produções visuais e orais contemporâneas da diáspora africana. É a atual curadora e coordenadora de projetos na Villa Romana, em Florença, dedicando-se às práticas artísticas transnacionais focadas na arte contemporânea e inovando metodologias de criação de exposições descentralizadas. Faz parte do coletivo de curadoria do Archive Ensemble, onde é co-curadora do programa Publishing Practices.
Dawit L. Petros (Eritreia, 1972) é um investigador, professor e artista visual que vive e trabalha no Canadá. O seu trabalho é influenciado pelos locais onde viveu – Eritreia, Etiópia, Quénia e Canadá – indo buscar a sua inspiração à diversidade de culturas que conheceu. Fascinado pelo conceito de migração e diáspora, o seu trabalho explora frequentemente a deslocação. Através da fotografia, o artista tenta estudar o que motiva a necessidade deste atual movimento global de pessoas.
Dimakatso Mathopa (África do Sul, 1995) vive e trabalha em Joanesburgo. Foi uma das finalistas do Prémio Norval Sovereign African Art e participa em feiras de arte, tendo o seu trabalho sido incluído em coleções na Europa e nos Estados Unidos. A Dimakatso tem um interesse específico por técnicas de gravura, serigrafia, estampagem e impressão.
Helena Uambembe (África do Sul, 1995) é uma artista multidisciplinar que reside e trabalha em Pretória e Berlim. Utilizando acima de tudo a fotografia, a performance, a gravura e a estampagem em vários materiais, Uambembe é uma contadora de histórias. Utilizando como base tradições orais transmitidas pela sua família, ela faz uma reflexão sobre histórias apagadas e traumas resultantes do conflito armado entre a África do Sul e a Namíbia, cujas consequências ainda hoje persistem.
Kapwani Kiwanga (Canadá, 1978) é um artista franco-canadiano a viver em Paris. O trabalho de Kiwanga segue o impacto generalizado das assimetrias de poder, fazendo as narrativas históricas interagir com realidades contemporâneas, com o material de arquivo e com as possibilidades do futuro. O seu trabalho foca-se na investigação, instigado por histórias marginalizadas ou esquecidas, articulando-se através de uma série de materiais e meios onde se inclui a escultura, a instalação, a fotografia, o vídeo e a performance.
Sandra Poulson (Angola, 1995) é uma artista interdisciplinar angolana que cresceu em Luanda. Licenciou-se em Design de Moda pela Universidade Técnica de Lisboa e em Impressão de Moda pela Central Saint Martins em Londres. A sua prática artística envolve a utilização de materiais como o tecido, a madeira, o cimento, entre outros, e aborda questões sociais, políticas e socioeconómicas relacionadas com o seu país de origem, Angola, dedicando uma atenção especial ao corpo e ao legado deixado pelo período colonial.
Tuli Mekondjo (Angola, 1982) é uma artista namibiana, cuja prática rica e multifacetada olha para o contexto sócio-histórico da Namíbia como um local para reavaliar e refletir sobre ideias relacionadas com a ancestralidade e a identidade. Mekondjo vive e trabalha em Windhoek, Namíbia. Conhecida pelas suas pinturas de meios mistos e bordadas, a prática rigorosa de Mekondjo reflete o desejo de se conseguir ligar e honrar a sua herança namibiana.
Yinka Shonibare (Reino Unido, 1962) é um artista visual, licenciado pela Byam Shaw School of Art, e tem um mestrado em Belas Artes pela Goldsmiths University em Londres. A sua prática interdisciplinar incorpora símbolos da arte e da literatura ocidentais para criticar e questionar a cultura contemporânea e as repercussões da globalização. Abordando temas como a raça, a classe e as identidades culturais, o artista explora as ligações complexas entre a África e a Europa, destacando as disparidades de oportunidades e de riqueza.
Zanele Muholi (África do Sul em 1972) destaca-se como estando entre os mais proeminentes artistas fotográficos de ascendência africana. Com um mestrado em documentário pela Ryerson University em Toronto, Muholi dá também aulas na Universidade das Artes em Bremen. O trabalho de Muholi foi apresentado em eventos de prestígio como o Documenta 13, o Pavilhão da África do Sul na 55ª Bienal de Veneza e a 29ª Bienal de São Paulo.