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Conversa com Tania Safura Adam

Archivos Negros: O Poder da Matéria

17 de Julho de 2025

18h

Hangar – Centro de Investigação Artística

Entrada Gratuita

Como observou Michel-Rolph Trouillot em Silenciar o passado: o poder e a produção da história (1995): “O monopólio da produção de histórias desmoronou-se: qualquer pessoa pode gerar conteúdos escritos ou audiovisuais sobre o passado”. Além disso, acrescento, “o arquivo é um elemento decisivo” nessa produção. Revisitar o passado requer a utilização de arquivos e registos oficiais, sem esquecer que estes reflectem sempre relações de poder; quando são criados, quando são utilizados e quando são valorizados e utilizados [1]. Jacques Derrida afirmava que “Não há poder político sem controlo do arquivo […] A democratização efetiva mede-se sempre por este critério essencial: a participação e o acesso ao arquivo, à sua constituição e à sua interpretação” [2]. Por outro lado, os arquivos não são repositórios passivos de materiais antigos, mas lugares onde o poder social é negociado, questionado e confirmado, nas palavras da arquivista e académica Saidiya Hartman, “O arquivo é uma coisa viva e em movimento, cujas fontes mudam à medida que falamos” [3].

Durante a sessão vai-se presentar como a proposta Archivos Negros (Barcelona, Espanha) assume essa complexidade e a perversão da ferramenta. O como a memória não é algo que se encontra e recolhe nos arquivos, mas que é constantemente feita e refeita, onde o conceito de verdade está sistematicamente em crise. Também se presenta o planeamento para a investigação 24/20 Black Retornad (Hangar, 2025).

[1] Joan M. Schwartz e Terry Cook. Archivos, registros y poder: de la teoría (posmoderna) a la performance (archivística). Archivar. La Virreina Centre de la Imatge. 2017.

[2] Jacques Derrida, Mal de Archivo. 1997

[3] BlackArchive Edition. Boston Ujima Project

Tania Safura Adam (Maputo – Moçambique, 1979). É curadora, investigadora e fundadora da Radio Africa, um laboratório de pensamento crítico e de divulgação das artes e culturas negras. Radicada em Barcelona (Espanha), a sua investigação explora as diásporas negras na Península Ibérica por via de imagens, literatura, cultura popular e historiografia, e estuda as sociedades africanas através das suas músicas populares.

Curadora de “Arquivos Negros: Fragmentos de uma Metrópole Anticolonial” (Manifesta 15, 2024). Um Réquiem para a Humanidade: Desumanizações, Poder e Futurismos Negros (La Casa Encendida, 2023 – 2024), “Microhistórias da Diáspora. Experiências incorporadas de dispersão feminina” (La Virreina, 2018-2019). Em 2016, foi responsável pelo programa de atividades de “Making Africa: Um continente de ‘design’ contemporâneo” (CCCB, ICUB).

Desde 2022, dirige o projeto de investigação “España Negra. Viaje hacia la negritud en el espacio-tiempo” (Museo Reina Sofía-Artium- CCCB- IVAM, 2023-2024 /MACBA-CCCB, 2025). Coordenou o seminário sobre Estudos Negros Ibéricos do Programa de Estudos Próprios do Museo Reina Sofía (2023-2024). Atualmente faz parte da equipa do Programa de Estudos Independentes (PEI) do MACBA.

Em 2024, funda o “Archivos Negros”, um repositório eclético de livros, discos, cartazes, artigos de jornal, cartas, discursos, cancioneiros e contos populares, desenhos e caricaturas, imagens de estátuas e monumentos, fotografias vernáculas, arquivos, registos, contratos, cadastros e outras fontes que reafirmam a existência negra em Espanha desde o século XV até aos nossos dias.

Escreve artigos em diferentes meios de comunicação e participa em diferentes publicações com os seus ensaios e poemas. Acaba de publicar o catálogo “Archivos Negros: Fragmentos de una metrópoli Anticolonial” e o ensaio “Voces negras: Una historia oral de las músicas populares africanas” (Malpaso, 2024).
Desde 2017, apresenta o programa Radio Africa no betevé. Apresentou o talk show televisivo Terrícoles (2017-2019) e African Bubblegum Music na Rádio Primavera Sound (2019).