RADIO
MAC

O programa rádio MAC-Movimento Anti-Colonial é um projeto com curadoria de Sónia Vaz Borges e Mónica de Miranda, com colaboração de Chimurenga.
O programa será desenvolvido em vários episódios com o propósito de refletir sobre os movimentos de libertação. O objetivo é trazer a consciência sobre as lutas do passado e do presente, redefinindo o processo de libertação para os tempos e condições atuais por meio de procedimentos de memória, resistência e utopia.

No programa rádio MAC o diálogo construído é intercalado com música, fala, poesia e performances. Nosso desejo é navegar pelo público em um mundo único, onde sons e performances de diferentes épocas e lugares possam se encontrar e interagir.

© Bruna Polimeni (1971), “Amílcar Cabral e Manuel dos Santos assistindo a uma demonstração militar”, Fundação Mário Soares / DAC – Documentos<Amílcar Cabral, (2021-2-18)

1 – Raquel Lima, As tuas palavras já cansam

Autora do Livro de poesias “Ingenuidade Inocência Ignorância” (BOCA. 2019) Raquel Lima é uma poetisa portuguesa, arte-educadora e investigadora em Estudos Pós-Coloniais, atualmente está a fazer o seu doutoramento na Universidade de Coimbra. Nesta conversa navegamos entre as palavras poéticas de Raquel e a narração de suas histórias e utopias.

2 – Chalo Correia, Quando a guerra acabou o povo nos comandou
 

“Quando a guerra acabou o povo nos comandou” é uma conversa sobre o estado das coisas depois dos vários conflitos ocorridos em Angola. Apesar do passado e do presente, indagamos sobre as implicações na formação das diásporas ou do que ele chama de filhos do mundo. Chalo revisita através da sua obra,  a poesia e letra de alguns conflitos, fazendo parte da memória coletiva angolana: colonização, guerra e imigração. Através das suas histórias e imagens pessoais consideradas parte integrante de suas canções, somos levados a uma jornada intensa, com o propósito de refletir sobre essas lutas. Chalo também tenta chamar a atenção para outros assuntos problemáticos, como a guerra do conhecimento, saúde e desenvolvimento.

Ele aponta uma pergunta fundamental: Agora que a luta acabou, onde vamos?

3 – Telma Tvon, Rebeldes com Causa

Autora do livro “Um preto muito português” (Editora Chiado, 2017).

A escritora e rapper Telma Tvon nasceu em Luanda, Angola, em 1980. Emigrou para Lisboa em 1993, onde frequentou o ensino secundário e abraçou aí a comunidade Hip-Hop. Rebeldes com causa é caminho que conduz a nossa conversa que conecta música, lugares, memórias com um percurso de escrita de “reconhecimento, atitude e palavreado”.

4 – Galissa, O futuro da terra

Galissa é um músico guineense criado no seio de uma família de músicos tradicionais. No O futuro da terra, ele reflete sobre o passado e o presente da história da Guiné, defende que no futuro as mudanças podem ocorrer a partir de todas as falácias do passado e do presente. Galissa leva-nos numa imersão às suas memórias de infância e vivências durante a colonização e o período de guerra crescente na Guiné. Também partilha a sua experiência de imigração para Portugal nos anos 90.

Nesta conversa, Galissa explica como algumas das suas composições fizeram parte do projeto de independência e como contribuíram nos processos coletivos de luta pela liberdade. Por exemplo, os seus encontros com a mensagem de Amílcar Cabral sobre a luta de libertação, educação e a luta contra o poder colonial na Guiné. Muitos dos significados de suas composições estão associados a esta mensagem.

5 – Marinho de Pina, Eu migro entre línguas e língua

Geraldo Pina, conhecido por Marinho de Pina, é um artista performance e escritor, frequenta o programa de doutoramento do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL). Nesta conversa Marinho Pina irá partilhar o seu percurso migratório, tanto física como virtualmente, onde este quer ser considerado e reconhecido como  “Gente, e nada mais que gente” na escrita de a uma  “Querida Europa”, mas também para quem possa interessar.

6 – Lucky, Xee menino não falar política

Lucky é um Dj angolano que vive em Lisboa. Ele nasceu em Kinshasa, como resultado do êxodo da guerra de Angola para o Congo, regressou após a independência com sua família para Luanda. Ele destaca a importância das rádios e explica como os angolanos no Congo podem estar ligados às notícias pela rádio. Assim, por meio do rádio, a sua família partilhou notícias sobre a independência e lançou o primeiro sinal de que era seguro voltar para casa quando os colonizadores foram embora. Lucky, fala sobre sua jornada de criança e o retorno ao seu país. Descreve as dificuldades da chegada a Luanda e a experiência que aí viveu. Ele conseguiu ver Angola independente, mas quando chegou a letra que mais lembra é Xee menino não falar política. Assim, era de certa forma proibido falar sobre política. 

Ele irá repassar pelas suas listas de reprodução e canções de memória. Ao sermos impulsionados pela sua música, podemos aprender mais sobre suas histórias pessoais e compreender melhor um conjunto de contextos culturais, sociais e políticos.

Lucky desembarcou em Lisboa nos anos 90 e narra a sua experiência de vida e as mudanças ao longo do tempo, desde o trabalho na construção civil até se tornar um DJ de renome.

Ele leva-nos a lembrar a cidade Lisboa como uma realidade crioula onde cabo-verdiano, guineense, moçambicano se encontram e explica como a cena musical lisboeta se desenvolveu numa nova nação africana para músicos e djs.

7 – Carla Fernandes, Sermos autores de nós próprios

Fundadora da Afrolis – Associação Cultural, organização que se dedica à promoção da expressão cultural e à construção de novas narrativas identitárias dos afrodescendentes. Carla Fernandes é jornalista, tradutora e produtora cultural. Em conjunto com Sónia Vaz Borges, ambas envolvem-se num diálogo que viaja entre o pessoal e profissional sobre as memórias, ambições e a criação de espaços africanos na capital portuguesa.

8 – Victor Gama, “War of the reptile men”

War of the reptile men é uma composição criada pelo compositor e músico angolano Victor Gama enquanto vivia em Angola durante os anos do conflito. Ele explica como  a sintonização na rádio estática, durante o girar do botão, expandiu a sua compreensão das possibilidades da música e do som como um intermediário.

Gama relembra memórias vívidas do período da independência no final dos anos 70, a transição no sistema educacional do país naquela época, e como ele aprendeu sobre Nelson Mandela com um professor de inglês que lhe trouxe um texto sobre o mais famoso prisioneiro político do apartheid para a sala de aula. Ele recorda como esta peça foi discutida durante o ano inteiro. Gama viaja para ‘Tsikaya – Músicos do Interior’, uma plataforma de músicos angolanos que iniciou em 1997, com compositores do interior do país.

Junatamente com Gama, os ouvintes são convidados a sintonizar o segundo movimento de Quatro Momentos, uma peça recente composta para acrux, um dos instrumentos musicais contemporâneos de Gama e relacionada ao cosmograma Dikenga, que tem como base o Bidimbo, o sistema gráfico de escrita da África Central.

Para além disso, Gama explora o projecto ‘tectonik: Tombwa – geografias em colisão’, baseado num manuscrito encontrado na África do Sul no final dos anos 90 que revela uma tese de investigação do antropólogo angolano Agusto Zita N’Gonguenho. Relata o livro Utopia  de Thomas More, como um modelo do colonialismo europeu em Angola.

Sónia Vaz Borges

Sónia Vaz Borges é uma historiadora interdisciplinar militante e organizadora sócio-política. Descreve-se , como  sendo uma entusiasta viajante, ávida aprendiz de línguas e uma ouvinte atenta. Sónia recebeu o seu doutoramento em História da Educação pela Universidade Humboldt de Berlim, e é autora do livro Militant Education, Liberation Struggle; Consciousness: The PAIGC education in Guinea Bissau 1963-1978, (Peter Lang, 2019) e Na Pó di Spéra. Percursos nnos Bairros de Santa Filomena, Estrada Militar e Encosta Nascente (Calouste Gulbenkian, 2014). Juntamente com a cineasta  artista Filipa César, Sónia foi co-autora da curta-metragem “Navigating the Pilot School”. (2016) e “Skola di Tarafe” (work in progress, 2021). Actualmente é investigadora na Universidade Humboldt de Berlim no Departamento de História da Educação no projecto “Educação para Todos” onde particularmente em Moçambique e o movimento de libertação FRELIMO, e a revolução sandinista na Nicarágua. Paralelamente, Sónia está a desenvolver uma proposta de livro, baseada num projecto de pesquisa pessoal centrado no seu conceito dos “arquivos errantes”.

Mónica de Miranda

Mónica de Miranda é uma artista portuguesa de origem angolana que vive e trabalha entre Lisboa e Luanda. Artista e investigadora, o seu trabalho é baseado em temas de arqueologia urbana e geografias pessoais. Trabalha de forma interdisciplinar com desenho, instalação, fotografia, filme, vídeo e som, nas suas formas expandidas e nas fronteiras entre a ficção e o documentário. Formada em Artes Visuais e Escultura pela Camberwell College of Arts (Londres) e doutorada em Estudos Artísticos pela  Middlesex University (Londres). Em 2019, foi nomeada para o prémio Novos artistas no Maat e em 2016 para o  Prémio Novo Banco Photo, expondo como uma das finalistas no Museu Coleção Berardo. Entre as suas  exposições destacam-se a participação nas exposições: Arquictectura e Fabricação, no MAAT em Lisboa (2019); Panorama, Banco Económico (Luanda,2019);Doublethink: Doublevision, Pera Museum (Istambul,2017); Daqui Pra Frente, Caixa Cultural (Rio de Janeiro e Brasília, 2017-2018);  Bienal de Fotografia Vila Franca de Xira (2017);  Dakar Bienal no Senegal (2016); Bienal de Casablanca(2016), Addis Foto Fest (2016); Encontros Fotográficos de Bamako ( 2015); MNAC (2015); 14ª Bienal de Arquitectura de Veneza (2014); Bienal São tomé e Principe(2013); Estado Do Mundo, Fundação Calouste Gulbenkian (2008). É uma das fundadoras do projeto Hangar (Centro de residências artísticas, Lisboa, 2014).

A sua obra está representada em várias colecções públicas e privadas, entre as quais: Calouste Gulbenkian, MNAC, MAAT, FAS e o Arquivo Municipal de Lisboa.

Chimurenga

Chimurenga é um projeto baseado num objeto mutável, publicação, espaço de trabalho e plataforma pan-africana para atividades editoriais. Fundada por Ntone Edjabe na Cidade do Cabo em 2002, é um espaço para ideias, reflexão e ação. Os resultados incluem um broadsheet chamado The Chronic; The Chimurenga Library – uma intervenção contínua na produção de conhecimento que explora a escrita da história na ausência de arquivos documentais, procurando assim re-imaginar a biblioteca; The African Cities Reader – uma publicação bienal da vida urbana, estilo África; e The Pan African Space Station (PASS) – uma estação de rádio online e um estúdio pop-up.

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